quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
a ascensão de um rascunho
soa muito mal quando alguém diz que tem medo de olhar pra cima. mesmo eu não sabendo o motivo, as palavras que mais gosto surgem do papel das nuvens, brancas, amorfas, cheias de qualquer coisa chamada transfiguração. nuvens são as pranchas de surfe de jesus, e o céu, pobre mar para o qual olham pra cima com medo de salpicar os olhos e arder a vista. por isso sempre carrego nos bolsos um pouco de sabão emborrachado: pra apagar os sais que surjam neles. é como se não fosse bonito chorar, mas não é mesmo. ter medo é como lançar uma bolinha de papel para cima e correr, pensando que ela vai crescer enquanto sobe e descer pesada, com vinte toneladas e do tamanho de uma baleia orca, bem em cima da gente. eu não: quando lanço bolinhas de papel para cima, já vou imaginando que nuvem ela vai ser quando crescer. por isso é que odeio as coisas mais fáceis do mundo. por que é que as filas de banco não têm flores no meio? também detesto flores nos poemas. acho que flores nos poemas são feitas pros poetas ficarem felizes de metê-las, líricas, bem no meio de seus rabos. nunca haverá flores em meus poemas, mas sempre carrego uma no meu bolso, pra plantar no meio da próxima fila de banco em que eu tiver que entrar.
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