encostado na parede e com um cigarro na boca, pensava no que vivera até ali. pensou na mãe, com o ventre no fogão, de onde saíram cinco crianças saudáveis: seus irmãos e irmãs, perdidos nos escombros da memória. pensou na noiva. nos amigos, presos ou mortos, resultado de vidas com rumos diferentes levando aos mesmos danos. guardou um lugar da memória para outros pensamentos. infância em minas, planos para mudar a situação. nunca teve filhos, nunca escreveu um livro, mas pensou ter plantado uma árvore ao enterrar aquela semente de ilusão. pensou nas pessoas que conheceu. ainda encostado na parede, deu um último trago quando chegou à conclusão de que nunca amou ninguém. ergueu a cabeça e assoviou uma marchinha carnavalesca. naquele momento, ouviu alguém gritar:
- fogo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário