quinta-feira, 12 de setembro de 2013

nunca fui de ficar parado por muito tempo

nunca fui de ficar parado por muito tempo
mas sou desses que deixam os braços cruzados
por isso meus pés têm muito mais tino que eu
as ruas as curvas os bares os labirintos
sabem dos meus caminhos de cor e salteado
mas é preciso mais que pés pra achar sua casa
só as mãos se fecham pra bater na porta
só os braços se abrem por sua presença
e os lábios se movem por seu beijo
e o corpo todo fica nas mudanças da água
o tempo casa com o destino e tem filhos lindos

digo-me dínamo

tudo em mim é dividido
dádivas, dívidas, dúvidas
e tantas divagações
me divido no que penso
me divirto no que sinto
indivíduo labirinto
que eu, sujeito, tomo assento
ando em débito automático
e portanto, tenho pressa
cada passo é uma promessa
de um cálculo matemático

carona

por favor, não se incomode com os roncos do motor
agora o banco do carro é o colo da minha mãe
fiz questão de usar álcool, não se preocupe
sim, lembrei de atacar o cinto de segurança
também não esqueci de ajustar o retrovisor
ainda tem dois pontos cegos no passado
mas não tem bronca, eu presto atenção
os vidros todos estão fechados
posso me ver refletido neles
é como se eu fosse comprar cigarro
com um sorriso que não tem amanhã
depois que você terminar os pratos
senta aqui do meu lado
por favor

não vejo mar nos olhos dela

não vejo mar nos olhos dela
vejo terra
terra não vem pra amar
vem pra guerra

a cor da terra invade
se instala
e prepara os canhões
tomando de assalto minha intimidade
sem disparar uma bala

há terra por todos os lados
nos olhos dela

às vezes gota d'água ou cascata
ou outra coisa qualquer
mas não vejo mar nos olhos dela
nem nunca mais o verei
nos olhos de outra mulher

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