terça-feira, 12 de março de 2013

poema


lá onde os vôos param de súbito
quando os pássaros morrem na varanda
e o calor deixa lembrança na pele

a vida se resume em dias da semana nos quais
[se pode beber
lá onde o amor é feito sob lençóis e pecados
(e apenas para filhos)

onde as putas fazem negócio às escuras
entre hábitos e coturnos

no lugar em que a música arde num só violão
[de geração para geração

não se ouve falar de poesia e o lunário
[perpétuo perdeu as folhas

livros morrem com olhos amarelecidos

essa poesia de fome e comida


essa poesia de fome e comida
essa coisa mal dormida
pão de anteontem

essa não canta em verso
é aquela que busco
no amor do ônibus lotado

basta um freio brusco
e é poesia pra todo lado

terça-feira, 5 de março de 2013

canção


enquanto passa o vento que me beija,
entro em meu silêncio e fecho a porta.
uma ponta de saudade ainda me corta
e dói-me pelos olhos sem que eu veja.

aspiro um ar estranho sem teu cheiro
e um nome paira entre anéis de fumaça;
se acendo a noite e meu olhar disfarça,
ainda escuto uma voz no travesseiro.

sinto dedos que de fato não são meus
num tato em lenta marcha pelo rosto.
ouço os verbos ditos, sinto o gosto,
mas todo o movimento faz-se adeus.

resumo


ontem pela manhã
uns sonhos bateram na porta.
resolvi não entendê-los
e mostrei minha xícara de café
e o jornal mais desperto do mundo.

ontem pela manhã deixei-me levar
pela onda de assaltos e assuntos.
ontem morreu alguém atropelado.
morreu a mãe de uma amiga chamada
ilusão. mandei flores e um abraço.

ontem à tarde, a beleza apareceu
de repente. eu não esperava visitas.
disse-me um poema que havia escrito
pela manhã.

à noite o amor surgiu no meio do jogo.

dei-lhe um tabefe na cara pra aprender
a nunca mais me atrapalhar.

artigos populares