segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

cigarro

quero ter mais palavras dentro do cigarro além de fumo, além de trago. uma dose de felicidade tabelada por fabricante e capacidade de destruição. quero mais palavras para um trago, mais felicidade no fumo; de que me serve saúde, de que adianta a proeza de prender o ar por mais tempo? com um cigarro, consigo prender o choro, o medo, a lâmina. o aço é frio, a faca sossega. há mais vida na brasa de um cigarro que no fogo dos meus olhos. os estalos do fumo e do papel de seda queimando são a canção perfeita. morra hoje, morra amanhã ou na próxima quinta-feira, trago mais vida entre os dedos. com a ponta do cigarro vou queimando no papel as palavras que não gostam mais de mim. mais um trago, e as cinzas caem num ponto final.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

canção


enquanto passa o vento que me beija,
entro em meu silêncio e fecho a porta.
uma ponta de saudade ainda me corta
e dói-me pelos olhos sem que eu veja.

aspiro um ar estranho sem teu cheiro
e um nome paira entre anéis de fumaça;
se acendo a noite e meu olhar disfarça,
ainda escuto uma voz no travesseiro.

sinto dedos que de fato não são meus
num tato em lenta marcha pelo rosto.
ouço os verbos ditos, sinto o gosto,
mas todo o movimento faz-se adeus.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

ao filho da puta da melhor estirpe



não façam cruzes em seu nome,
que ele não cria e não ia querer

ponham luzes nesse homem
que ele não há de morrer

foi-se embora a passo largo
foi-se embora pra pasárgada

não há césares em teu nome
e meu pesar é grande, júlio

à tua fonte, ó júlio
não há de se acabar

que és mesmo filho da puta
e tua luta é em outro mar

mas tu não me morras mais
não me morras

______________________________

este poema foi feito em homenagem ao poeta júlio saraiva, que morreu há pouco. não sei mais o que dizer, não sei verso nesse momento. só perdi alguma coisa. vou deixar aqui no blogue o link do blogue dele, o currupião. se vocês gostam de poesia, leiam, releiam. é o poeta com quem convivi sem nunca ter visto a cara dele de verdade.

www.currupiao.blogspot.com.br/

obrigado.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

volta



volta

mas não me voltes agora
espera a raíz dos sonhos
espera os sonhos florirem
espera eles darem frutos
e que tenham gosto

volta, sim

vem ver, escrevi na face
entre lágrimas e suores
a espera de dias melhores
um nome de flor e disfarce

volta

mas não me voltes agora
não enquanto eu choro
e tudo quanto escrevo
chora

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

neofobia


envelheça e eu te amo
tenha nome, tenha tino
tenha suas crias de pano
tenha medida e destino
seja feita sua vontade
de ser menino de verdade
mas antes que aconteça
cresça e desapareça

o que não tem raízes
não atrai raios de sol
não é feito infelizes
sob um mesmo lençol
não é feito de crises
nem feito à crisol

envelheça e eu te amo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Hárte


todo o princípio se entrelaça
nos vinte nós de nossas mãos;
vêm dez pincéis da cor do faça,
pintando sim por sobre os nãos.

então lábios pousam pela pele,
deixando um beijo em revoada:
são dedos que falam as coisas
das bocas que não dizem nada.

as minhas mãos, não vendo nada,
apontam a estrada entreaberta;
os dedos são língua molhada
em cada toque mais alerta.

o corpo em rima se reparte,
boca e pele em verso torto;
mas acontece de haver arte
em cada parte desse corpo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

primavera


em dois anos de inverno
não fazia flores
nas folhas do caderno

de repente, como não
se espera,
novamente em minhas mãos
explodiu a primavera

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

põe as mãos onde dói menos


põe as mãos onde dói menos
e faz-me sentir um beijo teu
parcela de brisa e venenos
carta de adeus lida no breu
põe em mim as tuas unhas
que supunhas curtas demais
deixa-me um gosto de açúcar
de pólvora seca de anos atrás
põe em meus olhos o que eras
inverno ausente no país do gelo
calor de gente, mar de cabelos
e faz-me implodir em primaveras

auroras que busco em noites vãs
criadas somente pra impedir o dia
mas definitivamente todas as manhãs
desaparecem quando tu me pões poesia

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