quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Hárte
todo o princípio se entrelaça
nos vinte nós de nossas mãos;
vêm dez pincéis da cor do faça,
pintando sim por sobre os nãos.
então lábios pousam pela pele,
deixando um beijo em revoada:
são dedos que falam as coisas
das bocas que não dizem nada.
as minhas mãos, não vendo nada,
apontam a estrada entreaberta;
os dedos são língua molhada
em cada toque mais alerta.
o corpo em rima se reparte,
boca e pele em verso torto;
mas acontece de haver arte
em cada parte desse corpo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
artigos populares
-
felizes aqueles que se deixaram levar pelo tempo e pelo esquecimento, cravando assim sua imortalidade em retratos pendurados nas paredes. f...
-
quero que você me morra na base da angústia da unha na carne mesmo mas que antes me mate de falta essa presença é um bicho que alimento...
-
que um dia alguém declame os meus mais lindos versos para alguém que ame. que, dispersos, meus versos façam alguém chorar saudade que ...
ResponderExcluirVivo numa casa de pano pintado d’mar e vestida d'vento,
Sempre virada ao tempo, mesmo ao vento hostil do norte,
A maré protesta do interior dos búzios e na casa d’ fronte
Alguém vigia pelos vidros, d’noite e abala quando desperto,
Nem a conheço, nem sei porque escuta nos búzios lá fora,
Talvez deseje algo e não encontre no ermo, o que procura
Ou espere vindo da espiral, algum rumor humano.
Vivo na praia p’ra me fundir nela, deslembrado e lugar-comum,
Se nem música ouço cantar as paredes de papel e pano,
No meu lugar na casa de trapo, sentado em lado nenhum.
Vivo numa casa povoada do assombro das horas tardias,
Escoam-se nas linhas de chuva pingando do telhado,
Conspirando na infinita monotonia de vidas esquecidas,
Na casa ao lado, não sei quem dorme e se levanta cedo,
Pois todas as noites, o desassossego é íntimo da morgue,
Com um bando de tordos, a entrar e a sair trajados de preto,
De madrugada, cerro as portadas e acautelo do furto,
O refluxo do mar imerso, de quem, com olhos ávidos o persegue.
Vivo numa casa arrendada nos subúrbios e em ruínas,
Jurei lealdade ao senhorio que recebe o arrendamento,
Mas infiltra-se p’las fissuras raios da luz d’outro tempo,
Em que o julgado era mudo e condenado a luz de velas,
Deambulam pelo patíbulo da forca na casa contígua,
Ouço-os berrar numa berraria abafada pela água
Da enxurrada, que corre nas telhas e se torna em oceano,
Eu escuto no escuro, através do muro da casa de pano.
Vivo por aí ao Deus-dará, (sem etiqueta)
Envergando velhos sentidos d’trapo,
Guiado por falsas vistas e na falta destas, apenas pelo tacto,
Sem morada com vista certa…
Jorge Santos (11/2010)
http://joel-matos.blogspot.com